Em um dos artigos que escrevi sobre o vinho no Novo Mundo mencionei que uma das principais diferenças entre a produção de vinho entre o Velho e o Novo Mundo é que neste último é dada grande ênfase ao tipo de uva com a qual o vinho é fabricado, são os vinhos varietais, provenientes de uma variedade de cepa definida, vinificado de tal forma que contenha a tipicidade dessa uva e no rótulo da garrafa vem indicado o tipo de uva predominante na sua elaboração.
Isto fez com que os países do Novo Mundo buscassem uma uva que melhor se adaptasse às suas características e que por esta razão se transformasse na cepa emblemática deste país, marcando sua identidade no mundo.
Assim, a Argentina tem a uva malbec, o Chile tem a uva carmenere, o Uruguai tem a uva Tanat, a Austrália tem a uva sirah e o Brasil tem a uva merlot, grande vedete dos vinhos produzidos no Sul do Brasil;neste último ano virou moda tomar vinhos produzidos com esta uva. Há garrafas de vinho merlot por todos os lados
Antes de virar moda, esta uva já era bastante famosa ente os enófilos e os cinéfilos. Vocês se lembram do filme "Sideways - Entre Umas e Outras", que passou em todos os cinemas do país. O filme é sobre uma viagem de despedida de solteiros onde dois amigos percorriam o vale do Napa, na Califórnia, em uma viagem enológica. Um dos personagens do filme, que entendia muito de vinho, simplesmente odiava vinhos produzidos com a uva merlot e amava os vinhos produzidos com a uva pinot noir. Isto acabou provocando uma queda nas vendas dos vinhos merlot nos Estados Unidos. O mais divertido de tudo é que o personagem não explica claramente por que ele não gostava deste tipo de cepa.
Talvez implicância, pois a uva, originária de Bordeaux, produz vinhos macios, aveludados e muito agradáveis. O sucesso desta uva no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, deve-se ao fato de ser a uva tinta que primeiro amadurece. Como sua colheita ocorre entre fevereiro e início de março ela está menos sujeita às chuvas que ocorrem de forma intensa no verão no Rio Grande do Sul, e que acabam elevando excessivamente a acidez das uvas da Serra Gaúcha, prejudicando algumas vezes a qualidade do vinho.
Merlot (que em francês quer dizer pássaro negro) é uma prima distante da cabernet-sauvignon. A diferença grande entre as duas é a casca, a da Merlot é muito mais fina. Ela também amadurece mais cedo do que a Cabernet. No Chile, durante anos houve uma confusão, que felizmente acabou em 1994, entre esta uva e a carmenere,
É uma uva de baixos taninos e produz vinhos que amadurecem rapidamente e de textura suave. Frequentemente é utilizada para assemblage com Cabernet Sauvignon para fazer um vinho mais encorpado.
Ela produz um vinho encorpado, intensamente frutado, complexo, com uma estrutura harmônica e perfeito equilíbrio. Apresenta uma cor vermelho-púrpura, seus aromas são densos e frutados, tendo uma boa evolução e complexidade. O paladar é rico, macio, perfeitamente equilibrado, sedoso e de grande classe. Normalmente está pronto para consumo entre 4 e 8 anos.
Esse vinho deve ser servido em uma temperatura um pouco abaixo da temperatura ambiente, resfriar a garrafa por 15 a 20 minutos no refrigerador (na porta não no congelador) é uma boa maneira de atingir a temperatura ideal para degustação.
Algumas sugestões de vinhos merlot produzidos no Brasi: Desejo 2004 da Salton, Dal Pizzol Merlot 2004, Casa Perini 2005, Miolo Reserva Merlot, Miolo Merlot Terroir 2004, Lídio Carraro 2002 Grande Vindima, Dom Cândido Reserva Merlot 2004, Dom Laurindo Reserva Merlot 2005.
Tania Maria Sausen é estudiosa dos vinhos.